segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pedrinhas na calçada

Confesso que sou um cara esquisito. Na verdade acho que todo mundo é. Mas ultimamente, minha esquisitice é justamente ficar reparando nas minhas esquisitices. Descobri por exemplo que tenho fixação por pedrinhas chutadas na calçada; calma, eu explico: se alguém está chutando uma pedrinha, lata, rocha, ou seja lá o que for, esse fato me desperta um inveja poucas vezes vista.

Fico de olho na pedrinha, até que o pobre cidadão pare de chutá-la. Quando vejo que a pessoa se foi, vou ali e fico por um tempo contemplando a pobrezinha, que antes foi usada para divertir uma pessoa sem coração. Depois de admirar a pedrinha um pouco (admiração que pode durar frações de segundo a bem da verdade), passo eu a chutá-la. Se for o caso, carrego ela comigo, porque tem alçadas que não tem comprimento nem para duas chutadelas.

Agora sim, a pedrinha tem a atenção que merece, a ai de quem tentar chuta-la também: será alvo de minha ira eterna (que geralmente dura uns trinta segundos). Mas depois de umas boas chutadas, meu coração começa a sentir um peso triste: vai chegando a hora despedida.


Não tenho vocação para ser aquelas tias velhas que cuidam de 30 gatos em casa, quanto mais a ser guardador de pedras (embora muita gente, por outras razões, ache que eu tenha vocação para ser pedreiro, esta nobre profissão que é a alegria, e a mãe, dos chutadores de pedrinha). A última chutada sempre é a mais longa, e geralmente a mais mirada; não quero que ninguém fique chutando as pedrinhas que chutei por aí, quero ser inesquecível!!! (pelo menos para aquela pedra). Se for pedra eu chuto pro meio da grama (onde presumo correrá menos risco de novas chutadas), mas se for uma latinha, bolinha de papel ou algum tipo de lixo (me sinto mal a chamar de lixo algo que me deu tanta alegria!!), faço questão de jogar na primeira lixeira que achar. Imagino (talvez para me senti menos culpado) que na lixeira a latinha (ou qualquer outro lixo) vai poder contar suas aventuras, e virará aquele amigo do seu amigo (que ele sempre fala mas você nunca viu), que sempre vive as maiores aventuras do mundo. Vou embora, depois de ter vivido os 30 segundos mais infantis e puramente felizes do dia. Pensando bem, até que é bom ser esquisito.

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