segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Curtinha - encontro nos trilhos.

Ele saiu sem olhar pra trás. Pegou sua (surrada) mochila jeans como única lembrança da vida que queria deixar. Animadamente triste, saudou a chuva como amiga que encobrir-lhe as lágrimas. Correu até a linha de trem, e a preocupação com os cachorros que poderiam aparecer, era mais um subterfúgio do que algo real. De repente viu um ponto ao longe, que podia claramente divisar como duas pessoas. Regressar não era uma opção, a escolha estava em não interagir para tentar ser ignorado, ou demonstrar uma coragem que não tinha, baseada na verdade de que não tinha nada a perder.
Na direção contrária pode ver um senhor de seus setenta e poucos anos, cantando o hino dos expedicionários: Você sabe de onde eu venho / Venho do morro do engenho / das selvas dos cafezais / da boa terra ...
Viu que a pessoa do lado era.... ele mesmo!!!(?)
Tentou falar com seu outro eu, mas ele gritou:

- Não toque em mim, apenas fale!!!

Achou meio estranho, mas resolveu fazer algumas perguntas. Passados 27 minutos descobriu que aquele garoto ruim era realmente ele, com apenas um diferencial: Fazia tudo que evitasse o arrependimento.
Com uma cicatriz enorme no rosto, e um pouco manco, explicou como estava a situação em Taiwan, como o nome “pacífico” do oceano era mentiroso e desmerecido, das razões do medo que tinha em fazer seu exame de HIV, e de como as estrelas eram diferentes no atacama.
Enquanto ouvia aquilo maravilhado e depois de ter pegado uma maçã na mochila, ele apenas inverteu o monólogo e começou a falar das suas frustrações e de como resolveu simplesmente sair e enfrentar os “e se(s)???” da vida.
Ao ouvir tudo aquilo, o homem da cicatriz deu um longo suspiro e sem falar nada (se) abraçou, considerando-se que seu outro eu fosse ele mesmo.
Foi então que se fundiram, iniciando algo que ainda hoje é falado (e desacreditado) pelo velho, que nunca mais cantou aquela música e tem saudade do seu fugaz companheiro de viagem.

Nenhum comentário: