quinta-feira, 31 de maio de 2007

Mário Prata - o escritor do cotidiano


Tem um livro que eu acho sensacional: Mario Prata - Minhas mulheres e meus homens.


Ele viu os 600 telefones na sua agenda e começou a prestar atenção naqueles nomes todos e viu que, com cada um deles, tinha vivido uma ou mais histórias - de amor, amizade, paixão, aventura, medo.Foi assim que nasceu o livro. De histórias reais


De vez em quando vou colocar uns trechinhos aqui só pra vocês sentirem como o livro é bom e despretensioso.


CLEVELÂNDE PRATA, fazendeiro (Uberaba, 1959)

Quando eu conheci o tio Clevelânde, ele já não tinha mais a barba. Além de se chamar Clevelânde (era pra ser Cleveland) tinha como irmãos o Atos, o Portos e o Aramis.
Ele nunca fez a barba. Era imensa, ia pra baixo da cintura, crescendo desde a adolescência. Aos 70 anos era branca como algodão. Vi fotos.
Até que um dia, pra surpresa de toda a família e toda a cidade, ele amanheceu - tarde - sem barba. E, puto da vida, explicou:
- Foi aquele filho duma égua do Aramisinho (sobrinho-neto dele, coitado) que me perguntou se, quando eu dormia, eu colocava a barba pra dentro ou pra fora do lençol. Merda, eu nunca tinha pensado nisso na minha vida. Nunca tinha reparado. Tava há três noites sem dormir. Punha pra dentro, punha pra fora, punha pra dentro, punha pra fora. Cortei de madrugada. Por isso que acordei tarde. Passa o pão.

Nenhum comentário: