sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lúcio: uma lição!

Lindo esse texto do André Kfouri, de longe o meu jornalista esportivo favorito!


A OUTRA TAÇA DE LUCIO

Às vezes, as cenas mais bonitas de uma decisão acontecem depois que ela terminou. São vistas por poucos sortudos, os que estavam no lugar certo e no momento preciso, premiados pelo acaso com imagens que não se apagam. Aconteceu no sábado, em Madri.

A final da Liga dos Campeões da Uefa já era parte da história. A festa dos torcedores da Internazionale de Milão, 45 anos depois da última conquista da Europa, enchia o Santiago Bernabéu do tipo de emoção que só o futebol proporciona.

A região perto das traves defendidas pelo alemão Butt no segundo tempo, onde “o príncipe” Diego Milito marcou seu fantástico segundo gol, era o epicentro da comemoração. Ali estavam concentrados mais de 20 mil italianos, ensandecidos pela realidade tão sensacional que parecia ficção. Por ali, o capitão Javier Zanetti passou chorando como criança, com os braços estendidos, querendo envolver um setor inteiro do estádio. Por ali, Samuel Eto’o, carregando a bola do jogo e “vestido” com a bandeira de Camarões, distribuiu beijos e sorrisos que eram a síntese da felicidade genuína. Por ali, o técnico José Mourinho passeou com a “orelhuda” em uma das mãos, balançando a outra num emocionado adeus.

A poucos metros, Julio César abraçou as dezenas de amigos que saíram do Rio de Janeiro para vê-lo encerrar a temporada com pelo menos uma defesa tão importante quanto um gol. E Maicon, bandeira brasileira amarrada na cintura, andou de um lado para o outro, sem destino, sem tocar o chão.

Mais de uma hora depois do fim do jogo, aquele pedaço de grama já estava vazio. Assim como o palco armado para a entrega da taça, onde os jogadores da Inter formaram um corredor para os do Bayern passarem. E os vencedores aplaudiram os vencidos. Onde Louis Van Gaal, o técnico responsável pelo fim da carreira de Lucio no clube alemão, cumprimentou o zagueiro brasileiro com um abraço.

Mais de uma hora depois do fim, não havia mais nenhum jogador no campo. Ou melhor, havia um: Lucio. Ainda de uniforme, ele caminhava com os filhos pelo gramado. De repente, ouve-se a torcida do Bayern. O ídolo de quatro temporadas, adversário naquela noite, se aproximava lentamente. Ele carregava uma de suas filhas no colo, ela também usava a camisa da Inter.

Os torcedores que estavam mais próximos do campo apontavam, gesticulavam. Aquele era o primeiro encontro entre Lucio e os bávaros desde que o Bayern decidiu que o brasileiro não estava nos planos, há um ano. Mistura de sentimentos de ambas as partes.

Um cachecol vermelho e branco voou das cadeiras e caiu na grama. Lucio o pegou, o enrolou no pescoço da garotinha em seus braços, e um urro gutural ecoou no Bernabéu.

Lindo. Sorte de quem viu.

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